05 Nov
05Nov

Na cidade de São Paulo, onde o ritmo frenético não dá trégua, duas pessoas compartilham um banco no metrô. Era uma segunda-feira à noite, e o vagão, normalmente cheio de risos, conversas, e barulhos de celulares, agora estava mais silencioso, com os passageiros cansados e absortos em seus pensamentos.

Gabriel, um homem de 35 anos, vestia terno e gravata. Ele acabara de deixar seu escritório após uma reunião exaustiva, carregando nas costas a pressão de uma responsabilidade que parecia aumentar a cada dia. Nos últimos meses, ele sentia que o trabalho começava a roubar pedaços de sua vida, mas a única maneira que conhecia para lidar com isso era manter-se sempre ocupado. Parar para pensar nas próprias emoções parecia algo supérfluo.

Ao lado dele, estava Sofia, uma jovem de 28 anos, que encarava o reflexo de si mesma na janela do vagão. Sofia vinha de um fim de relacionamento e trazia no rosto os traços de uma tristeza disfarçada, enquanto tentava aceitar o fato de que, apesar de todos os esforços, o amor que ela imaginou eterno se desgastara. Durante as últimas semanas, ela havia se acostumado a preencher o vazio com compromissos e atividades, para não encarar a verdade dolorosa que seu coração ainda evitava.

Enquanto o vagão balançava, os dois permaneciam em silêncio, dividindo o mesmo banco, mas mundos separados em pensamentos. Um silêncio que, para muitos, seria desconfortável, mas que, para eles, era um convite ao autoexame. A cada estação que passava, o silêncio ficava mais profundo, e, curiosamente, mais acolhedor.

Gabriel começou a pensar no que realmente buscava com todo aquele esforço no trabalho. Ele se lembrava da época em que os finais de semana eram sagrados, dos passeios com amigos e dos dias de paz. Havia sacrificado tudo isso, acreditando que o sucesso profissional preencheria um vazio que agora parecia maior do que nunca. O metrô balançou mais uma vez, e ele percebeu que estava fugindo de seus próprios sentimentos, de suas dúvidas e frustrações.

Ao lado dele, Sofia deixou escapar um suspiro silencioso. Olhando para o reflexo, ela percebeu a tristeza em seus próprios olhos e se questionou há quanto tempo não se permitia realmente sentir. Todos os programas que fazia para evitar o luto pelo fim do relacionamento não haviam feito nada além de afastá-la de si mesma. O metrô parou, e Sofia se deu conta de que estava perdendo não só o ex-namorado, mas também a pessoa que era antes daquela relação.

Naquele curto trajeto, sem trocarem uma única palavra, os dois foram impactados por aquele silêncio, que parecia criar um elo invisível entre eles. Quando o metrô parou na estação final, Gabriel se levantou, respirou fundo e, sem saber por que, olhou para Sofia e esboçou um leve sorriso. Ela retribuiu, e ambos seguiram seus caminhos, sentindo que algo havia mudado.

Ao saírem do metrô, com o som da cidade mais vivo ao redor, Gabriel e Sofia tinham a sensação de ter ganho algo precioso: o entendimento de que o silêncio pode trazer à tona as respostas que evitamos, nos convidando a enfrentar o que, no fundo, já sabemos.

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