Lucas acordava todos os dias com uma sensação de urgência, como se já estivesse atrasado antes mesmo de começar o dia. O relógio marcava 6h, mas sua mente já estava acelerada. Morando sozinho em um apartamento apertado e desorganizado, ele se perguntava como alguns colegas de trabalho pareciam ter suas vidas completamente sob controle. O feed do LinkedIn só reforçava essa percepção. Eram promoções, cursos de especialização, novos projetos, e Lucas sentia como se estivesse sempre um passo atrás.
Ele trabalhava em uma empresa de tecnologia, um ambiente onde a velocidade e a inovação eram a norma. Ali, a pressão de ser o próximo a apresentar algo revolucionário fazia parte da rotina, e Lucas não se destacava. Sentia-se como mais um entre muitos. Enquanto colegas ganhavam prêmios de funcionário do mês, lideravam projetos ou recebiam convites para eventos importantes da área, ele se via fazendo o mínimo para sobreviver.
Naquela manhã específica, Lucas estava particularmente desanimado. Ao abrir o e-mail, mais uma reunião com sua chefe apareceu na tela. Já esperava o que ouviria: comentários sobre como poderia ser mais proativo, mais dinâmico, mais qualquer coisa que ele ainda não era. Suspirou, tentando se preparar para mais uma conversa que o faria sentir-se menor.
Durante a reunião, porém, algo inesperado aconteceu. Mariana, sua gerente, notou seu semblante abatido e, em vez de apontar as áreas em que Lucas estava falhando, perguntou: "Você está bem, Lucas? Parece que tem carregado um peso enorme nos ombros. "Surpreso, ele gaguejou, sem saber como responder. Pouco a pouco, acabou revelando sua frustração, a sensação de estar sempre correndo atrás e nunca alcançando. Mariana ouviu atentamente e, em seguida, sorriu compreensivamente. "Sabe, Lucas, eu também já estive onde você está agora. Comparação é um veneno silencioso. Sempre haverá alguém mais rápido, mais inovador, ou com mais conquistas, mas o que realmente importa é se você está progredindo na sua própria jornada."
Aquela conversa ficou martelando na mente de Lucas durante os dias seguintes. Talvez ele estivesse, de fato, se sabotando com tantas comparações. Uma mudança não aconteceria da noite para o dia, mas algo começou a se transformar dentro dele.
Algumas semanas depois, ele foi convidado por um colega mais experiente, Roberto, para almoçar. Roberto era visto como um dos melhores profissionais da empresa, mas, para surpresa de Lucas, a conversa não girou em torno de grandes feitos ou projetos ambiciosos. Roberto falou sobre os altos e baixos de sua carreira, as dificuldades que enfrentou no início e o quanto o processo de crescimento foi mais lento do que as pessoas imaginavam. "A questão, Lucas, não é ser o mais rápido. É saber para onde você quer ir. De que adianta correr e chegar a um lugar onde você nem queria estar?"
Aquelas palavras foram um ponto de virada. Lucas começou a refletir sobre seus próprios objetivos. O que ele queria, de fato? Percebeu que, por tanto tempo, estava seguindo um caminho que acreditava ser o certo, baseado no que via os outros fazendo, mas nunca havia realmente parado para considerar suas próprias aspirações. Com o tempo, ele começou a fazer pequenas mudanças. Parou de olhar obsessivamente as redes sociais e decidiu focar em desenvolver suas habilidades, uma de cada vez, no seu próprio ritmo. Aceitou que o progresso verdadeiro vem de pequenos passos consistentes, e não de grandes saltos impetuosos. Lucas voltou a estudar por conta própria, inscreveu-se em um curso que realmente lhe interessava e passou a dar valor às suas conquistas, por menores que fossem.
A transformação não foi imediata, mas, aos poucos, Lucas começou a se sentir mais no controle de sua própria trajetória. Em vez de olhar para os lados e comparar-se com os outros, ele começou a valorizar o caminho que estava trilhando. A sensação de estar sempre atrasado foi substituída por uma percepção mais compassiva sobre si mesmo. Ele finalmente entendeu que o seu tempo era único — e que a verdadeira vitória era continuar avançando, mesmo que devagar.
Um ano depois, Lucas olhava para trás e percebia o quanto tinha mudado. Não se tornara o funcionário mais brilhante da empresa, mas tinha encontrado um equilíbrio e uma paz que antes não imaginava ser possível. Entendia, agora, que seu crescimento não dependia de alcançar os outros, mas de se aproximar cada vez mais de quem ele queria ser.Ao sair do escritório em uma tarde tranquila, ele respirou fundo e sorriu. Finalmente, Lucas havia encontrado seu próprio tempo.