11 Oct
11Oct

Leila era conhecida por ser a assistente administrativa que nunca dizia "não". Sempre sorridente, estava disposta a ajudar quem quer que fosse, não importava a tarefa. Se alguém precisava de ajuda com um relatório de última hora, ela estava lá. Se o chefe precisasse que ela ficasse até mais tarde, ela ficava. A princípio, sua atitude prestativa a tornou uma funcionária popular e bem-vista. Colegas e superiores a elogiavam, dizendo que ela era o "coração" do escritório. Mas, com o tempo, esse peso começou a se acumular.

As demandas sobre Leila pareciam nunca diminuir. Quanto mais ela ajudava, mais as pessoas esperavam dela. Em vez de um favor ocasional, era como se ela estivesse sempre sendo requisitada para resolver problemas dos outros. Ela se via sobrecarregada, levando trabalho para casa, dormindo mal e, eventualmente, negligenciando sua própria vida. Pequenas pausas para o almoço desapareceram, os fins de semana livres se tornaram uma raridade, e a sensação de cansaço constante a acompanhava.

Leila sabia que algo estava errado. Sua saúde começava a dar sinais. Dores de cabeça frequentes, cansaço extremo e uma irritabilidade que ela mal conseguia controlar começaram a surgir. Mas, quando ela pensava em recusar um pedido, o medo de desapontar alguém ou de ser vista como egoísta a paralisava. Ela simplesmente não conseguia dizer "não".

Foi em uma manhã, após uma noite mal dormida e um pedido urgente de última hora de um colega, que tudo veio à tona. No meio de uma reunião, Leila sentiu uma onda de ansiedade tomar conta de seu corpo. O coração acelerou, a respiração ficou curta e as palavras dos outros começaram a parecer distantes. Era como se o mundo estivesse rodando ao seu redor, mas ela não conseguia acompanhar. Ela pediu licença e saiu da sala, tentando recuperar o fôlego. No banheiro, sentada em uma das cabines, ela chorou pela primeira vez em meses.

Naquela tarde, Leila tomou uma decisão. Precisava aprender a cuidar de si mesma antes de continuar a cuidar dos outros. Ela começou a pesquisar sobre assertividade e a importância de estabelecer limites saudáveis. Aos poucos, passou a entender que dizer "não" não era uma demonstração de egoísmo, mas uma forma de proteger seu próprio bem-estar.

A primeira vez que Leila disse "não" foi difícil. Um colega lhe pediu para revisar um relatório em cima da hora, mas ela tinha um compromisso pessoal importante naquela noite. Mesmo com a pressão interna, respirou fundo e, educadamente, recusou. Sentiu um frio na espinha enquanto esperava pela reação. Para sua surpresa, o colega aceitou sem reclamar, e ela seguiu com seu compromisso.

Nos dias seguintes, Leila praticou dizer "não" com mais frequência, sempre de forma respeitosa e firme. Não foi um processo fácil; ela ainda sentia o peso da culpa em algumas situações, mas a cada vez que conseguia recusar algo que não podia ou queria fazer, sentia um pouco mais de alívio.

Com o tempo, Leila notou que as pessoas começaram a respeitar mais seus limites. Ela ainda ajudava os colegas, mas apenas quando realmente podia, sem se sobrecarregar. Seu chefe percebeu a mudança, e mesmo sem dizer nada diretamente, ele passou a distribuir melhor as tarefas no escritório.

Sua vida pessoal também começou a florescer. Com mais tempo livre e menos estresse, Leila redescobriu hobbies que havia deixado de lado, como a pintura e as caminhadas no parque. O sono voltou ao normal, e as dores de cabeça tornaram-se raras. Ela se sentia mais leve, mais conectada consigo mesma, e finalmente capaz de respirar.

Leila entendeu que estabelecer limites não era uma barreira para os outros, mas um gesto de autocuidado necessário para preservar sua saúde e sua felicidade. Aprendeu que dizer "não" era, em muitos casos, dizer "sim" a si mesma. E isso, ela descobriu, era a escolha mais importante de todas.

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