28 Oct
28Oct

Patrícia sempre sonhou com a liberdade de poder escolher as roupas que quisesse. Crescendo em um lar onde a escassez era a norma, a ideia de comprar um vestido novo ou um par de sapatos era quase um sonho distante. Sua infância foi marcada por sacrifícios; ela se lembrava das vezes em que admirava as vitrines das lojas, desejando que um dia poderia ter o que via.

Agora, na faixa dos trinta anos e com um emprego estável, Patrícia parecia ter tudo o que desejava: um bom salário, um apartamento acolhedor e um armário transbordando de roupas. No entanto, a alegria que sentia ao adquirir mais peças se dissipava rapidamente. A cada nova compra, uma breve euforia era seguida por um profundo sentimento de arrependimento. As etiquetas penduradas nos vestidos tornaram-se um lembrete constante de sua luta interna.

Durante a semana, Patrícia se dedicava ao trabalho, mas nos finais de semana, seu ritual de compras se intensificava. Ela percorria as ruas da cidade, absorvendo as luzes e as promoções que a cercavam, como se cada loja fosse um refúgio temporário. No entanto, ao voltar para casa, a satisfação se transformava em um peso em seu coração. As roupas, que deviam trazer alegria, se acumulavam em seu armário, sem que ela sequer as usasse.

Certa noite, Patrícia decidiu organizar seu armário. Ao abrir a porta, uma avalanche de peças novas e esquecidas a fez sentir-se oprimida. Olhando para o que tinha, percebeu que muitos desses itens estavam com etiquetas intactas. A imagem do seu eu mais jovem, sonhando com essas compras, agora a assombrava.

Nessa reflexão, Patrícia começou a se questionar: o que estava realmente buscando? Com o tempo, ela começou a perceber que suas compras eram um reflexo de algo mais profundo. O desejo de ter tudo o que não pôde comprar na infância estava se manifestando de forma destrutiva. Foi então que ela decidiu procurar ajuda profissional. A terapia se tornou um espaço seguro para explorar suas emoções e entender que cada compra era uma tentativa de preencher um vazio emocional.

Com o apoio de sua terapeuta, Patrícia começou a trabalhar em sua autoestima. Ela aprendeu a valorizar quem realmente era, independentemente do que vestia. Gradualmente, aprendeu a diferenciar entre necessidades e desejos, permitindo-se um olhar mais crítico sobre suas compras. Com o tempo, ela começou a redescobrir a alegria em pequenas coisas: um dia ensolarado, um café com amigas, momentos de lazer.

Em vez de sair para comprar, Patrícia começou a se envolver em hobbies que realmente a preenchiam, como a fotografia e a escrita. E quando eventualmente comprou uma nova peça de roupa, foi com a intenção de realmente usá-la e valorizá-la, não como uma forma de autoafirmação, mas como uma celebração de seu crescimento pessoal.

A jornada de Patrícia a levou a uma nova compreensão: a felicidade não se encontrava nas compras, mas na aceitação de si mesma e nas conexões que ela cultivava. E assim, ao se libertar das correntes do consumismo, ela finalmente se encontrou.

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