Helena caminhava apressada pelos corredores do escritório, os saltos ecoando no chão de mármore polido. As grandes janelas de vidro do prédio refletiam a agitação da cidade lá fora. No 15º andar, de onde ela trabalhava, tudo parecia milimetricamente organizado e brilhante. Assim como sua vida aparentava ser.
Trabalhando em uma das empresas mais prestigiadas da cidade, Helena, aos 34 anos, tinha conquistado muito do que a sociedade considerava sucesso. Um apartamento sofisticado, roupas de grife, e uma presença invejável nas redes sociais. Cada postagem sua era meticulosamente planejada para receber o máximo de curtidas, comentários e aquela validação que a alimentava. Mas, por dentro, Helena sentia um vazio crescente.
O dia da apresentação havia chegado. Ela passara noites em claro, revisando cada detalhe, preparando-se para impressionar. O olhar de aprovação do chefe era seu combustível. Os aplausos dos colegas, seu alívio momentâneo. Mas por que, mesmo com todos os elogios, algo dentro dela parecia errado?Após a apresentação, Helena recebeu as palmas e os sorrisos que tanto esperava. Sentia o peso de ser admirada, mas não o prazer. Saiu do escritório, subiu no elevador, e enquanto descia os 15 andares, algo dentro dela começou a se desfazer.
Já em casa, sozinha em seu luxuoso apartamento, ela se sentou no sofá e tirou os saltos, que naquele momento lhe pareciam um fardo. De frente para o espelho da sala, observou seu reflexo. A imagem refletida era a de uma mulher perfeita: cabelos impecáveis, maquiagem sem falhas, roupas elegantes. Tudo parecia estar no lugar certo, exceto ela mesma.Helena se aproximou do espelho, encarando seus próprios olhos. “Quem é você?” ela se perguntou, mas a resposta não veio. A solidão a envolveu como um manto invisível. Sentia que toda sua vida estava moldada pelas expectativas dos outros, enquanto sua própria essência se apagava.
Sentada à janela, observando as luzes da cidade, ela percebeu que passara anos buscando a aprovação alheia, mas nunca parara para buscar a sua própria. Cada elogio, cada “curtida”, cada sucesso profissional, nada daquilo era realmente seu. Era como se vivesse a vida de outra pessoa, uma versão de si mesma criada para agradar aos olhos de quem a observava.
As semanas que se seguiram foram de reflexões profundas. Helena começou a se afastar lentamente das redes sociais, postando menos e se preocupando menos com os números. No trabalho, começou a dizer "não" para demandas que a esgotavam, focando apenas no que realmente importava para ela. E, pela primeira vez em anos, ela sentiu uma leveza que há muito tempo desconhecia.
Ela compreendeu que o verdadeiro sucesso não estava nas aparências, mas em como se sentia consigo mesma. O processo não foi fácil, mas Helena estava determinada a descobrir quem ela era, além das máscaras que usava. A cada dia, um pouco mais de sua verdadeira essência emergia, e o reflexo no espelho já não era mais apenas uma imagem bonita. Era o reflexo de uma mulher em paz consigo mesma.