10 Oct
10Oct

Mariana sempre foi apaixonada por ensinar. Desde criança, brincar de escola era o seu passatempo favorito. Com o tempo, esse sonho se tornou realidade, e ela passou a lecionar em uma escola de ensino fundamental numa grande cidade. Seus alunos a adoravam, e seus colegas a admiravam por sua dedicação. Mariana investia tempo em criar aulas dinâmicas e projetos criativos que estimulavam o aprendizado e o desenvolvimento dos pequenos. Ela se orgulhava disso, mas, aos poucos, começou a perceber um preço invisível sendo cobrado.

Os dias de Mariana eram longos. Chegava cedo para preparar a sala e deixava a escola depois de todos, muitas vezes levando trabalho para casa. Seu compromisso com os alunos era tanto que ela raramente tirava folgas, e os finais de semana se tornavam uma extensão de suas responsabilidades. Corrigindo provas, preparando atividades e organizando eventos escolares, Mariana não via o tempo passar.

Aos poucos, essa rotina intensa começou a afetá-la. Ela mal tinha tempo para ver os amigos, e os almoços de domingo em família se tornaram raros. Suas mensagens de grupo ficavam sem resposta, e o tempo que passava com seus pais e sua irmã, antes algo constante, agora parecia um luxo. As pessoas ao seu redor começaram a perceber sua ausência, e mesmo quando estava presente, parecia distraída, sempre pensando nas responsabilidades da escola.

Em uma dessas noites de trabalho em casa, Mariana sentiu uma exaustão diferente. Não era apenas cansaço físico — era uma sensação de esgotamento emocional. O peso da rotina e a falta de tempo para si mesma começaram a se refletir em sua saúde. Ela passou a dormir mal e sentia uma ansiedade constante. Seus alunos ainda eram sua maior motivação, mas algo dentro dela estava se quebrando.

Foi durante uma reunião de professores que uma colega, Ana, comentou casualmente sobre um curso de meditação que havia começado a fazer para lidar com o estresse. Mariana ouviu a conversa de canto de ouvido e, pela primeira vez, se viu interessada em algo que não fosse relacionado ao trabalho. Decidiu conversar com Ana após a reunião.

— Como está sendo o curso? — perguntou Mariana, curiosa.

— Está me ajudando muito — respondeu Ana. 

— Eu também estava me sentindo sobrecarregada, e percebi que precisava de algo para me reconectar comigo mesma. Estamos sempre cuidando dos outros, mas quem cuida da gente?

A pergunta ressoou em Mariana. Ela nunca tinha pensado dessa forma. Movida pela curiosidade e pela necessidade urgente de mudar, ela decidiu se inscrever no curso. A princípio, achou difícil desligar sua mente das preocupações cotidianas, mas, pouco a pouco, a prática começou a fazer sentido. Ela começou a perceber a importância de desacelerar e prestar atenção no presente.

Conforme as semanas passavam, Mariana também começou a tomar pequenas atitudes no trabalho. Estabeleceu limites com a escola: não levava mais trabalho para casa e passou a delegar mais atividades aos colegas. Às vezes, se pegava sentindo culpa por não se envolver tanto quanto antes, mas logo lembrava do conselho de sua instrutora de meditação: "Você só pode dar o melhor de si quando está bem consigo mesma."

Essas mudanças impactaram não apenas sua vida pessoal, mas também seu trabalho. Com mais tempo para descansar e se cuidar, ela passou a se sentir mais criativa e engajada nas aulas. Suas interações com os alunos também mudaram — ela estava mais presente, mais paciente, mais leve.

Mariana também se reconectou com sua família e amigos. Voltou a frequentar os almoços de domingo e a planejar encontros com os amigos. Certa noite, enquanto jantava com sua irmã, ela comentou como se sentia mais feliz.

— Eu sempre soube que você era uma excelente professora — disse sua irmã. 

— Mas agora você está sendo uma excelente Mariana também.

Essa frase ficou marcada. Mariana percebeu que, por muito tempo, havia dedicado tanto de si ao trabalho que esqueceu de ser boa consigo mesma. A jornada para o equilíbrio não foi fácil nem rápida, mas foi transformadora. Ao se permitir parar, respirar e olhar para além das responsabilidades da escola, Mariana encontrou um novo ritmo de vida — um ritmo que lhe permitia ser feliz, tanto como professora quanto como pessoa.

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